06/01/2009

sob o tema da Contemplação

“ de longe nada é o que parece” disse o rapaz de blusa laranja para a menina a 2 metros do quadro que olhava. “ o que você disse?” replicou ela sendo chamada de volta de seu mundo onírico da contemplação para o mundo real. “eu disse ‘de longe nada é o que parece’” repetiu o rapaz estendendo a mão para a menina convidando-a a se colocar três passos para trás. “nossa realmente” disse ela olhando para o quadro novamente “estou começando a entender”. “ então agora é sua vez” disse o rapaz “ contemple a distância dos seus passos a cada passo”. Sendo assim, a menina a cada passo que dava percebia um leve reencache das nuances do quadro que observava e a cada passo que dava, chegava mais ao fim, até em um passo em falso perceber ser esse o último que dava pois acabara- se o chão no vão de um abismo entre dois extremos. Assustada, retomando o equilíbrio, de súbito ela exclamou “ e agora?!” mas o rapaz já não existia, ao seu redor nada mais existia além do quadro a sua frente e a distância de seus passos. E um vento suave, que sempre esteve lá, teve sua chance de ser ouvido “ se joga menina”. E assim sendo, foi.





Era uma confusão de cores que saltava e refletia colorindo os olhos fixos como dois amantes. As linhas e curvas que se limitavam nas finas bordas emadeiradas traçavam um desenho quase simbiótico ao do momento presente dessas finas mãos mais delgadas do que a caneta sem uso, caminhando de dedo em dedo, empurrada por um movimento robótico. A roupa meio amassada misturava tantos pigmentos e feições quanto os do quadro. A dúvida acerca da naturalidade da cena exalava a força da contemplação onírica no ar quase que ao mesmo tempo em que aquele corpo indefinido, como uma manhã que ainda não chegou, se mesclava na tela do quadro sem título cuidadosamente pendurado em paredes de lugar nenhum. Uma leve massa de ar, tão concreta quanto o pensamento, deslocava em pequenos movimentos o que restava dos cabelos lisos e castanhos, nem cansados, nem afoitos, encaixando-se com naturalidade na magia apática da posição imóvel da pesada massa de carbono que os carrega.



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